Penso que todos já sentimos o "vacation blues", aquela sensação de voltar de férias, acompanhada por uma certa angústia e por uma melancolia que bate só de pensar no regresso para o mundo do trabalho e da rotina.
Por um lado sentimo-nos felizes de ter tido umas férias maravilhosas - e parte de nós quer regressar à rotina - por outro, há coisas para as quais não temos qualquer vontade de regressar.
Mas nem tudo é mau e esta sensação traz consigo algumas valiosas lições.
Na verdade, estes momentos são essenciais para repensarmos a forma como levamos a vida e para tomar algumas decisões que nos podem ajudar a viver melhor.
Portanto, é essencial não nos deixarmos afundar naquela sensação depressiva do regresso ao normal, o chamado "vacation blues" ou a melancolia do regresso.
Porque aquilo que esta melancolia nos está a querer dizer não é aquilo que parece.
Na verdade, não nos está a dizer que estamos com medo de voltar à rotina mas, sim, que estamos com medo de voltarmos a ser quem éramos nessa rotina.
Não queremos, por exemplo, ser aquela pessoa permanentemente ansiosa. Não queremos ser os pais que se irritam com os filhos.
Não queremos ser a pessoa preocupada com tudo o que não interessa. Não queremos ser a pessoa que perdeu a sensação relaxada de viver.
Não.
Queremos ser esta pessoa que vem das férias com um sorriso na cara, mais paciente, com mais espaço dentro de si para viver as coisas boas da vida.
Queremos mais disso no nosso dia-a-dia mas sabemos que é não é possível viver exatamente igual a uma rotina de férias.
Mas há coisas que podemos transferir de uma experiência para a outra.
Podemos e devemos.
Eis, então, 3 dicas que eu uso que me ajudam a lidar com o "vacations blues".
1. Um regresso faseado
Um dos grandes causadores de ansiedade é que querer pegar no trabalho como se as férias não tivessem existido; É querer resolver tudo no primeiro dia, entrar a mil na primeira hora e apanhar todos os pendentes como se estivéssemos a correr atrás de um prazo.
Não só não ajuda fazer isto, como nos faz mergulhar nos hábitos que queremos alterar.
Por isso, idealmente, devemos dar-nos a primeira semana, pelo menos, para ir entrando nos afazeres com um ritmo mais oxigenado.
...e não me venham com a história de que não é possível fazer isso porque todos sabemos que é, sobretudo em Agosto e início de Setembro, altura em que Portugal ainda para bastante.
Por isso, na primeira semana de regresso, trabalhem um pouco, leiam coisas que gostam, falem com as pessoas e façam o que puderem para entrar com calma na rotina.
Isto permite-nos, também, identificar alguns hábitos que queremos mudar e dá-nos tempo para começar a implementar algumas mudanças. Caso contrário, entram na máquina de cabeça!
2. Façam uma lista daquilo que gostariam de mudar
Sim, eu sei que parece artificial fazermos uma lista com coisas que queremos mudar mas ajuda-nos a ter clareza sobre aquilo que é importante para nós e isto é extremamente importante para vivermos uma vida autónoma e realizada.
Para chegar a essa lista, eu parto daquilo que não gosto, ou seja, escrevo o que não gosto/não quero na minha rotina, escrevo a sua causa e, finalmente, qual a solução para alterar esse comportamento.
Explicando melhor:
Primeiro, na coluna da esquerda, escrevo as coisas que não quero repetir ou que não gosto do meu dia-a-dia. Por exemplo: andar sempre na correria.
- ninguém gosta, pois não? -
Na segunda coluna, escrevo a causa dessas coisas, ou seja, porque é que me sinto assim ou assado, como é que cheguei a esse ponto, o que está a causar esse problema.
Na terceira coluna, escrevo a solução ou as medidas para corrigir esse problema.
Na quarta coluna, escrevo quais os benefícios que vou ter se fizer essas alterações.
eis um exemplo:
Não é nada de muito complicado, nem deve ser.
Até se escrevem coisas bastante óbvias mas, por vezes, é por falta de fazermos o óbvio que não nos realizamos.
Copiem este modelo ou façam um que vos ajude a compreender o que sentem e como podem alterar o que não gostam. Vão ver que alivia.
3. Fazer desporto
É claro que tinha de trazer o treino à baila mas não pensem que é trivial. O desporto é o anti-depressivo mais potente e eficaz do mercado e, mais do que isso, dá-nos a vitalidade que precisamos para "agarrar" na vida.
Durante as férias, demos mergulhos o dia inteiro, fomos a sítios, passeámos, etc. e bem sei que também comemos e bebemos mais do que o normal!
E, depois, voltamos para casa e ficamos sedentários.
Imaginem o impacto negativo que isto tem no corpo mas, sobretudo, na me
nte e, mais concretamente, no foro emocional.
Por isso, o meu último conselho é, literalmente, mexam-se!
Vão correr 20 min - não precisam correr 10km! - , vão passear, vão fazer treinar na STAT!
Façam o que fizerem, aproveitem este período para adicionar uma atividade física à vossa rotina. Não pensem demasiado nisto. Comecem. Façam alguma coisa de que gostem. Se não encontram uma, façam várias: corram num dia, noutro vão dar uma volta de bicicleta, no outro vão treinar kickboxing ou nadar.
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Acima de tudo, encarem este momento como um período positivo para a transformação e para a criação de pequenos novos hábitos que podem ter um impacto muito positivo nas vossas vidas.
Não devemos exagerar e esperar mudar tudo. Não só não é realista, como é certo que irá falhar.
O importante é mudar umas coisas e fazer com que a vida seja um espelho cada vez mais fidedigno de quem queremos ser.
Bom regresso à rotina, à vossa rotina, à vossa criação.
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