Nunca dá jeito tirar uns dias.
No nosso caso, temos 3 filhos, o mais velho tem sete anos, a do meio tem cinco e a mais nova, dois. Sair de casa não é, simplesmente, juntar umas roupas e pegar no carro. Uma noite fora representa duas malas, três sacos e bastante confusão.
Ainda assim, partimos para um fim-de-semana de 3 dias. A ideia era simples: tirar uns dias para quebrar a rotina.
No entanto, o que vivemos naqueles três dias superou largamente a mera quebra de rotina.
E superou porque há coisas que acontecem que não conseguimos antever quando estamos na mesmice da rotina.
Aqui vão 4 razões que fazem 3 dias valer a pena:
1. O tempo muda
Em primeiro lugar, numa escapadela destas, o tempo destes não passa da mesma forma do que em casa.
Quando saímos, a percepção de tempo dilata e acabamos por conseguir fazer muito mais do que faríamos se ficássemos em casa.
Isto é importante porque acabamos por aproveitar o tempo de outra forma e isso leva a que a experiência se valorize como um todo.
De repente, três dias parecem cinco, logo, há mais espaço para viver novas experiências e, claro, novas memórias.
2. Deixamos de ser autómatos
A rotina é uma ótima forma de andar com as coisas para a frente mas é, também, uma anestesia nas relações pessoais.
Vivemos o dia-a-dia com a nossa família sem nos aperceberemos que repetimos os mesmos comportamentos há tempo demais e de forma automática.
Isto é perigoso porque significa que não nos estamos a relacionar autenticamente. Estamos a ser funcionais e, muitas vezes, a cumprir as tarefas que são necessárias para garantir o dia-a-dia, o que tem todo mértio.
No entanto, na praticalidade perde-se a novidade.
Ao tirarmos uns dias para nos abstrairmos da rotina, criamos uma brecha na automatização e isso, por sua vez, leva-nos a ter de criar novas formas de nos relacionarmos uns com os outros. Formas essas que, porventura, são mais autênticas e sinceras do que aquelas que temos tido.
Este renovação permite-nos criar novas pontes e reconecta-nos, fortalecendo os laços e aprofundando as relações.
3. Reconhecemo-nos
Outra coisa de que não nos apercebemos é a de que, na maioria das vezes, estamos uns com os outros nos mesmos horários do dia.
Ora, imagino que isto seja igual convosco, mas eu interajo com os meus filhos em dois momentos críticos do dia: de manhã e ao final do dia.
Ou seja, estou com os meus filhos quando eles acabam de acordar ou no momento do dia em que estão mais cansados: o final da tarde.
Isto quer dizer que a nossa relação tem por base uma parte limitada do comportamento deles e nossos, pais.
Reparei nisto claramente quando estive a brincar com eles durante o dia.
"Pareciam outros"...
Não pareciam. A questão é que estavam diferentes daquilo que costumam estar ao final do dia, o que é completamente natural,
Estavam despertos, cheios de energia e curiosos,
É fundamental termos acesso a estas outras facetas porque, de repente, em vez de sermos pessoas rabugentas e agastadas, passamos a ser vistos como aquilo que somos, pessoas mais leves, divertidas e brincalhonas.
E isto, por sua vez, é muito importante porque nós educamos os nossos filhos com base nos comportamentos que vemos neles.
Ora, se os comportamentos que vemos são o de crianças cansadas ou adormecidas - e com todas as birras e teimosias que isso acarreta - então vamos educá-las com base nessa premissa. Isto leva-nos a um desajuste na educação que queremos dar, simplesmente, porque estamos a educar para parte delas.
Isto tornou-se claríssimo quando, ao final do dia, vi os meus filhos ficarem rabugentos, mal-dispostos e com respostas tortas. Eu nem queria acreditar, tinham passado o dia tão bem e divertidos, porque razão haveriam de estar de mau humor?
Mas seu eu não os tivesse visto durante o dia, assumiria que a personalidade deles é aquela.
Portanto, estar com a nossa família e, em especial, com os nossos filhos durante o dia inteiro - e noutro contexto - faz com que os vejamos na sua versão mais inteira e iso pode surpreender-nos imenso.
Pode, sobretudo, ajustar a forma com que lidamos com eles, tornando-a mais adequada a quem, realmente, são.
4. Formamos novas memórias
Neste tempo que dilata, onde todos se reconectam e se reconhecem, há a criação natural de memórias novas e marcantes.
A simples saída de rotina e a entrega aos novos momentos levam a que os acontecimentos sejam vividos de outra forma e isso dá azo a novas memórias e, muitas delas, especiais.
Isto é importante porque precisamos de renovar as nossas memórias de forma a dar futuro às nossas relações.
Se vivermos na rotina demasiado tempo, vamos olhando uns para os outros e relembrando acontecimentos demasiado longínquos e desapegados emocionalmente. Quando isto acontece, as relações começam a sofrer.
A criação de novas memórias une-nos e dá-nos força para continuar o caminho juntos.
As novas experiências tornam-se em novas memórias que, por sua vez, permitem um presente e um futuro mais vivos.
É vital criar novas experiências pois faz com que todos se queiram lembrar do tempo que passaram juntos.
***
Estas são 4 razões importantes para se tirar três dias em família.
Primeiro, os dias passam de forma diferente, logo, vale a pena tirar 3 dias porque vão parecer 5.
Segundo, é uma oportunidade para reconectar emocionalmente com nossa família e tornar essa ligação mais autêntica e poderosa.
Em terceiro, é nestas fugas à rotina que descobrimos quem é que os outros são na sua totalidade e não, apenas, em certos momentos do dia. A reconexão com o outro é o crescimento mútuo.
Por fim, um fim-de-semana destes costuma criar memórias inesquecíveis, ainda que sejam simples e mundanas. São marcos genuínos e autênticos que elevam as relações entre todos lá em casa, algo tão necessário e fundamental para um lar.
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