Na semana passada realizou-se uma cerimónia especial na STAT, chamada a "Cerimónia das Velas e do Sabão", uma cerimónia que serve para dignificar a entrega de cintos pretos no Taekwondo Songahm, a arte marcial que ensino.
Esta é uma cerimónia muito calma e serena, uma espécie de meditação conduzida com vista à introspeção de todos os presentes. É, também, uma cerimónia fundamentalmente simbólica, onde a luz da vela representa o conhecimento que é transmitido dos Instrutores aos alunos e que permanece nestes para sempre e o Sabão, por seu turno, simboliza o sacríficio envolvido na Liderança, onde quem se entrega aos outros vai, naturalmente, sacrificando o seu ego em prol do crescimento dos outros.

O decorrer da cerimónia consiste em alguns momentos de introspeção e uns discursos breves, onde todos os presentes são convidados a refletir sobre o seu percurso até ali, sobre o seu futuro e sobre o significado de ser cinto preto. No final, os novos cintos são entregues e todos saem com a sensação de fecho de um ciclo e o início de um novo.
Como é evidente, esta cerimónia não poderia ser mais tradicional. É ritualística e simbólica e vem carregada de história e antiguidade. Poderíamos pensar que este tipo de rituais, quase religiosos, não têm lugar numa liderança moderna ou numa cultura progressista como é a da STAT.
Contudo, não só tem lugar especial, como é necessária.
Este tipo de rituais são momentos de balanço para todos.
Os alunos pensam no seu percurso, naquilo que os trouxe até ali e naquilo que os levará dali em diante.

Os Instrutores fazem um "ponto de situação": verem os seus alunos a graduar dá-lhes perspetiva sobre o seu trabalho e sobre o impacto que tem.
E, por fim, este momento serve para a liderança revisitar o propósito da sua missão.
Os rituais - sejam eles antigos ou novos - servem para embrenhar de significado tudo aquilo que fazemos. É uma forma de parar o tempo e voltar à base. Servem para elevar os espíritos e para garantir a humildade de quem tem responsabilidades.
É claro que não podemos pedir às organizações "normais" para implementarem rituais deste tipo, com velas e meditações. Para além de estranho, iria, muito provavelmente, ser contra-producente porque iriam parecer artificiais.
Então como é que um ritual permite alavancar uma Liderança moderna?
Porque traz a liderança ao cerne da sua missão e para junto das pessoas que serve. É fácil um Mestre ficar no alto do seu pedestal e desligar-se do caminho dos alunos. Da mesma forma que é fácil um CEO perder contacto com quem está no terreno.

Um ritual deste tipo une todos no mesmo propósito e, enquanto uns refletem no seu crescimento, outros refletem sobre a qualidade da sua liderança.
Não é por acaso que sempre existiram rituais e continuam a existir. Mesmo não sendo formais, todas as organizações os têm. O problema surge quando não se conhece os rituais que se tem.
Por exemplo, ir beber um café às 10h30 com os colegas é um ritual. Mas é consciente? O que acontece nele? Parece inocente mas não é. Do que é que se fala durante essa pausa? Serve para aligeirar o ambiente ou para ir dizer criticar pessoas ou a organização?
Tudo isto tem impacto.
Existem, contudo, rituais modernos com impactos muito positivos para as organizações. Um exemplo similar à "Cerimónia das Velas e do Sabão" são as reuniões periódicas entre a liderança e os seus colaboradores com vista à melhoria da relação entre ambos, do contexto e da implementação da missão corporativa. Este ritual é positivo quando todas as partes o utilizam para refletir sobre o seu desempenho.
Existem inúmeros rituais numa cultura organizacional. Uns são conscientes, outros não, mas todos têm repercussões, sejam elas explícitas ou implícitas. Torná-los irrelevantes é perigoso, torná-los demasiado rígidos é tirânico.
O importante é que existam os rituais que aproximem a liderança das suas equipas, unindo e integrando as partes para que a organização cresça como um todo interligado e são.
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