Existe uma ligação direta entre a natureza e a morte. Estarmos próximos à natureza põe-nos em contacto com o ritmo natural das coisas, com o nascimento, com a decadência e com o tempo que tudo demora.
A cidade apresenta-nos o intemporal. Os edifícios são formas de nos tornarmos, de certa forma, eternos, são uma tentativa de nos prolongarmos no tempo. A cidade tem outra permanência, uma que nos sobrevive e que, por isso, nos angustia. É difícil vivermos num espaço que não vive no nosso ritmo. Pior do que isso, é um espaço que se quer maior do que a pessoa porque precisa de sê-lo.
Já na natureza, somos capazes de admirar os pequenos ciclos que nos vão revelando a nossa maturidade. Conseguimos apreciar as árvores antigas e reconhecer a sua sabedoria. De alguma forma, respeitamos as árvores que no sobrevivem, não as tememos, encostamo-nos a elas e sentimo-nos confortáveis por isso. Podemos sentir um fascínio similar pelos edifícios antigos mas não é tanto pela sua duração mas por quanto lá foi vivido durante esse tempo.
A natureza espelha-nos, mais do que nos espelha qualquer construção. Enquanto que a primeira tem o mesmo destino que nós, a segunda procura enganá-lo.
Entre as árvores, reconheço a minha morte. Entre os edifícios temo a sua chegada. Na natureza descubro a vida, na cidade ela foge-me.
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