Existem dois tipos de liderança. A liderança focada no crescimento do líder e a liderança focada no crescimento dos outros.
A liderança focada exclusivamente no crescimento do líder e das suas pretensões é, naturalmente, uma falsa liderança.
É aquela que é levada a cabo por pessoas que não permitem que ninguém os ponha em causa ou os ultrapasse. Na cabeça deles, qualquer pessoa competente é, no fundo, uma ameaça.
Neste tipo de liderança, a competência não é um critério e a competição interna é norma.
Já vi este tipo de liderança muitas vezes nas artes marciais. Supostos líderes que atingem o seu estatuto por via das suas competências técnicas mas que, assim que formam um grupo em seu redor, sabotam o crescimento e o desenvolvimento dos outros. São os ditadorzinhos que vêem nos outros ameaças à sua autoridade intocável.
E, claro, quem diz artes marciais diz qualquer tipo de organização.

Por oposição, há o estilo de liderança que chama todos à mesa. Que só procura ver o crescimento dos outros, alimenta-o e encoraja-o. Que procura as qualidades das pessoas e as alavanca.
Neste caso, não há ameaças, há potencial. Não há linhas vermelhas, há caminhos a trilhar. Não há competição, há colaboração.
Num caso há medo, no outro há esperança.
Um facto curioso é que existe uma correlação direta entre a capacidade de organização e a capacidade em liderar.
Isto, porque a desorganização do líder, desorganiza o outro. O outro, quando desorganizado, procura uma organização própria. Consequentemente, quando confrontado, o líder desorganizado não tem argumentos que sustentem a sua liderança, logo, recorre à forma mais básica de controlo: anular a organização concorrente.
Por outras palavras, anula qualquer pessoa que procure ser organizada dentro da sua estrutura pois é sentido como uma ameaça direta, ainda que seja evidente que não é uma ameaça mas, simplesmente, uma tentativa de estruturar o desestruturado.
Por seu turno, a capacidade de organização leva à criação de uma cultura onde o sistema criado é mais importante que o líder e para onde todos contribuem. A liderança deixa de ser do líder aos liderados e passa a ser uma liderança que supervisiona o desenvolvimento do sistema sobre o qual todos operam.
Ora, é evidente que, neste último método, todos os contributos são bem-vindos e, até, encorajados. Quanto melhor o sistema for, melhor será o resultado para todos os stakeholders. No nosso caso, melhor será para os membros da equipa mas, também, melhor para os alunos, os Pais, as famílias, etc.
Portanto, a falta de organização gera uma liderança fortemente dependente de quem lidera. Logo, é falível, emocional, parcial e tendenciosa. Isto gera uma liderança tóxica.
Ao contrário, a verdadeira liderança revela a capacidade do líder sair do caminho dos outros e de criar uma sistema organizado que o supera, o que, por sua vez, gera uma cultura fértil, criativa e colaborativa.
A arte estará em encontrar o grau certo de rigidez ou flexibilidade na implementação desta capacidade em organizar o eu e os outros. Demasiada rigidez gera estagnação, demasiada flexibilidade gera confusão.
No fundo, o líder nunca deve ser a conta, o peso e a medida do crescimento pois isso levará à tirania. Um bom líder dever ser aquele que norteia e faz a curadoria do organização que todos co-criam.
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