Um dos maiores erros de liderança é não sermos claros naquilo que queremos dos outros. Quem lidera devia ter por hábito comunicar quais são as suas expetativas, como é que ela as quer ver em prática e como é que as vai inspeccionar.
Em inglês chama-se a isto pre-framing. Infelizmente não encontro a sua tradução ideal. "Enquadramento prévio" é muito estéril e é, apenas, a descrição do que existe previamente à ação desejada. Já o pre-framing é a definição do quadro que se pretende para a ação. Seria mais correto chamar-lhe "condicionamento" mas isso retira autonomia de quem age e tem uma conotação mais negativa...Portanto, como dizem os Clã "em língua inglesa fica sempre bem"!
Na verdade, muitas relações entre líderes/liderandos, professores/alunos ou educadores/educandos ficam aquém do seu potencial porque existe pouca clareza na transmissão das expetativas, o que, por sua vez, gera incerteza nos resultados e uma crescente sensação de frustração de ambas as partes.
Pensa-se que basta dizer-se o que se pretende mas, para uma liderança eficaz, é preciso mais do que isso. É preciso dizer-se o que se pretende, é preciso clarificar o que se vai inspeccionar e é preciso ter-se disciplina na inspecção.
Imaginem o seguinte caso:
A Mariana, CEO da Lideres, Lda, chega ao trabalho e pede um relatório novo ao João, o seu diretor comercial. Diz que precisa de ver como correu o evento do dia 14. Assim que ouve isto, o João põe mãos à obra. Pensa que não será muito difícil fazer um relatório sobre o evento, ainda que este tenha sido diferente dos anteriores. No final do dia, apresenta o relatório à Mariana e ela irrita-se porque não vinha com os parâmetros que ela precisava e que, segundo ela, bastaria um pouco de bom-senso para perceber que eram fundamentais para aquele relatório.
Afinal, quem tem razão? A Mariana porque este trabalho competia ao João e ele deveria saber o que fazer? Ou o João porque não pode adivinhar o que a Mariana queria?
Como sempre em situações que envolvem mais do que duas pessoas: estão ambos certos e ambos errados.
Por um lado, a Mariana deveria ter clarificado exatamente o que queria. Por outro, o João deveria ter perguntado à Mariana sobre os parâmetros desejados para o relatório.

Contudo, parto do princípio que a responsabilidade deve sempre ser assumida por quem lidera. Não se pode esperar que alguém que esteja numa posição hierarquicamente inferior venha chamar o chefe à atenção. Pode acontecer mas é menos provável. Também não se pode exigir que um aluno dê um reparo à professora porque esta não explicou a matéria como devia. Não faz sentido porque, logo à partida, há um fator de medo, um medo de exposição e um medo da vulnerabilidade e, por outro, pelo simples facto de quem está a ser ensinado saber menos do que quem ensina, logo, não consegue dar visibilidade ao que não conhece.
Por mais que não seja, quem lidera deve assumir a responsabilidade para conseguir agir. Caso contrário, caso culpe o colaborador ou os alunos, ou filhos, estará a ficar sem capacidade de agir sobre o problema.
"É raro haver um aluno que não aprende mas é comum ver professores que ensinam."
Tal como faço com os Instrutores da STAT, proponho-vos a seguinte metodologia de ensino ou de Liderança:
Definam uma coisa (apenas uma!) que queiram ver melhorado
comuniquem-nos de forma clara digam o que esperam ver deles (sejam específicos: quero ver "isto", "assim")
"Inspeccionem" exatamente aquilo que pediram
É simples, funciona e ajuda muito o trabalho em equipa. É claro que podem incluir aqui o planeamento e a estratégia para implementar esta metodologia mas a base é esta e quer-se simples.
Lembrem-se, um bom Mestre não é aquele que evidência a ignorância dos seus alunos, é aquele que lhes mostra o caminho para a solução. Liderar é exatamente a mesma coisa.
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